Empreendedorismo com Propósito

O mundo está mudando seus parâmetros e critérios atuação empresarial. O modelo utilizado num passado recente já não atende à vocação do empresariado de hoje. O mundo e o planeta exigem mudanças.

O SEBRAE/MG elaborou um estudo apontando seis grandes tendências de negócios altamente lucrativos para pequenos e médios empreendedores:

a) Empreendedorismo com propósito;

b) Diversidade como vantagem competitiva;

c) Inovação e tecnologia em favor de negócios mais sustentáveis;

d) Economia colaborativa como fonte de crescimento;

e) Economia circular como oportunidade de negócio;

f) Cidades sustentáveis, ambientes para o empreendedorismo.

Nesse artigo vamos pinçar alguns elementos que nos ajudem a compreender a primeira grande tendência apresentada pelo estudo do SEBRAE/MG, ou seja, o Empreendedorismo com propósito.

O rosto austero, a análise racionalista e sem alma, e as decisões insensíveis de alguns empreendimentos (em especial em empresas de instituições financeiras e grandes mineradoras e/ou exploradoras de combustíveis fósseis) levaram o planeta ao seu esgotamento e a uma situação de emergência com o grave problema das mudanças climáticas.

Não é possível aceitar o comprometimento da vida humana no planeta para que se alcancem os maiores lucros possíveis para grandes empresas. Tais lucros beneficiam apenas e tão somente um pequeno número de famílias detentoras de grandes fortunas. Estamos falando de grandes empresas de Mineração, da Indústria de celulose, das Instituições financeiras e outras de mesmo gênero.

Esse modelo de geração de riquezas e bens de consumo tem sido muito questionado. Podemos citar exemplos como o da Vale do Rio Doce e os impactos ambientais e sociais negativos que esse tipo de negócio é capaz de gerar. O mesmo se pode dizer das grandes extensões territoriais destinadas à monocultura de eucaliptos para abastecimento da indústria de celulose.

Quem são os beneficiários dos bens e riquezas produzidos nesses empreendimentos? Muita riqueza gerada para poucas pessoas e, em contrapartida, muitos problemas sociais e ambientais criados para a sociedade e para o meio ambiente em geral.

Então, faz-se necessário perguntar: qual é o propósito de nosso empreendimento? Qual é o custo social, humano e ambiental do meu empreendimento. Além do lucro que se espera obter através da atividade empresarial, qual é o legado que se pode deixar para a sociedade atual e/ou para as futuras gerações?

É necessário ressaltar alguns pontos quando se pensa em empreendedorismo com propósito:

a) SUPERAÇÃO DA VISÃO DE LUCRO A QUALQUER PREÇO E A QUALQUER CUSTO: cresce e se destaca, na atualidade, a concepção de empreendimento com propósito, conquistando cada vez mais espaço no mundo dos negócios. Superando a concepção predatória de obtenção de maiores lucros sem se importar com os danos humanos, sociais e ambientais, uma nova geração de empreendedores está conseguindo realizar tanto os seus propósitos pessoais de ganhos e lucros, quanto em oferecer significativa solução para os grandes desafios da sociedade. Seus produtos ou serviços vão além do lucro. Deixam um legado na melhoria das condições de vida das pessoas, da sociedade e das futuras gerações.

b) PROPÓSITO É A RAZÃO DE SER DE UM EMPREENDIMENTO: Muitos confundem propósito com metas, objetivos, visão, valores. Todos esses elementos são importantes num empreendimento, mas o propósito diz respeito ao “PORQUE”, à “RAZÃO” pela qual o empreendimento existe. É o propósito que vai direcionar a definição dos valores a serem observados num determinado empreendimento. Essa tendência não é moda passageira, mas tendência de atuação empreendedora com marcas de permanecer em vigor, pois se percebe hoje o surgimento acelerado de novos empreendimentos que vem se mostrando mais inovadores, atraentes, rentáveis e sustentáveis.

c) POR QUE SE DEVE PENSAR EM EMPREENDEDORISMO COM PROPÓSITO? Vejamos alguns pontos:

• Um mundo novo requer pessoas (física e jurídica) novas. As necessidades do passado não são as necessidades do presente, bem como muitos problemas atuais não existiam no passado. É necessário que as pessoas, a sociedade e as empresas se reinventem diante do cenário e dos desafios atuais.
• Gerir e ser protagonista da própria vida e da construção do próprio futuro: é necessário que as pessoas vivam com mais propósito, trabalhem com mais alegria e significado, e que liderem a própria carreira. Que não sejam meros expectadores passivos diante da vida, mas que sejam agentes ativos e protagonistas do próprio destino.
• A necessária passagem visão empresarial predatória para a visão solidária, da visão meramente competitiva (perde/ganha) para uma visão mais colaborativa (ganha/ganha). O concorrente não é um inimigo a ser abatido e eliminado, mas pode se transformar em parceiro de lucratividade e de legado humanístico, social e ambiental.
• Outra razão importante advém do progresso tecnológico que põe em xeque a relação Emprego X Trabalho, ou seja, a relação entre Estabilidade X Nomadismo Laboral. Não dá para parar o mundo num modelo do passado. A atuação cada vez mais frequente de robôs e mecanismos de Inteligência Artificial exigem dinamismo e criatividade para a geração de novos postos de trabalho, e não ficar sonhando com a eterna estabilidade do emprego. O mundo é dinâmico e requer adaptação constante aos novos desafios de cada época. Segundo estudos apresentados por vários institutos e empresas de consultaria, 50% dos postos de trabalho hoje em vigor, deixarão de existir até o ano de 2030.
• Encarar as dificuldades como DESAFIOS e não como PROBLEMAS: quando se tem um propósito que vai muito além do lucro, quando se tem um legado a deixar para a sociedade e para as futuras gerações, as chances de desistir diminuem porque se está fazendo algo que vai muito além do dinheiro. Muitos serão beneficiados por esse empreendimento e isso significa, para o empreendedor, gerar o bem-estar das pessoas, trabalhar e viver por um ideal, garantir qualidade de vida para si mesmo, para seus familiares, para seus colaboradores e, ainda, gerar impacto positivo no seu entorno e para o planeta. Empreender com propósito significa engrossar a fileira do bem, da solidariedade, da sustentabilidade e da realização das pessoas.

Há que se ter em mente que nenhum empreendimento, qualquer que seja, pode ser realmente bom se não fizer com que a vida das pessoas e do meio ambiente sejam melhores. No empreendedorismo com propósito, a lucratividade vem sempre atrelada à vontade de melhoria das condições de vida das pessoas e do mundo. Para isso, se faz necessário que o empreendimento impacte o mundo de forma positiva; é preciso que os talentos das pessoas envolvidas no empreendimento sejam colocados a serviço da coletividade e das pessoas na interação empresa/sociedade; é preciso que se entenda que lucro não se reduz a dinheiro.

Chamo a atenção para que os extremos sejam evitados. Quando se fala em empreendedorismo com propósito se diz de NEGÓCIO COM SIGNIFICADO, mas sempre será NEGÓCIO e, portanto, se faz necessário não abrir mão da geração de lucro e dinheiro.

Existem várias alternativas de negócios com propósito, tais como a oferta de produtos e/ou serviços, ou mesmo em investimentos onde a própria pessoa é o produto ou o serviço ofertado. Essa modalidade é muito interessante, pois envolve a qualidade do serviço ofertado somado ao desenvolvimento de habilidades pessoais. É o caso de milhares de palestrantes e influenciadores que fazem da comunicação com propósito o seu negócio (sempre altamente rentável e socialmente significativo).

Assim, tocar um empreendimento com propósito requer que escolhas sejam realizadas de acordo com o propósito final: escolha de fornecedores, de funcionários, de estratégias, de cultura empresarial e outras. Todas essas escolhas devem alinhar-se ao propósito do empreendimento.

Quando um empreendimento faz uso de comunicação com propósito e consegue fazer refletir o legado da empresa, o público aceita com maior aderência seus produtos/serviços. Também é muito importante que a empresa adote estratégias de fidelização humanizada, evitando-se aquela comunicação racional, informal, fria e distante de seu público. A satisfação do cliente deve estar na lista de prioridades.

Esse é um cenário ideal: ter um empreendimento altamente lucrativo e, ao mesmo tempo, gerando melhorias na qualidade de vida das pessoas, da sociedade e do planeta.

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José Archângelo Depizzol

20/10/2022